Com 34 anos de experiência na área de Climatologia Geográfica, o Professor Me. José Alves Costa, da Universidade Federal do Acre (UFAC), dedicou sua carreira a ensinar e a esclarecer os equívocos cometidos nos temas da climatologia na região da Amazônia Sul-Ocidental.
Como um dos pioneiros, na UFAC, Prof. José assumiu a cadeira de Climatologia no curso de Geografia em 1989, quando logo após a Constituição Federal de 1988, quando fora instituído o concurso público no Brasil. Desde então, José tem trabalhado para esclarecer as confusões comuns entre meteorologia e climatologia.
TEMPO x CLIMA: ESCLARECENDO A CONFUSÃO
Professor. Me. José Alves Costa durante entrevista.
Tempo e clima são termos frequentemente confundidos, mas possuem significados distintos. O tempo refere-se às condições atmosféricas de curto prazo em uma área específica, como temperatura, precipitação, umidade e vento, observadas ao longo de horas ou dias. Enquanto o clima descreve o padrão médio dessas condições atmosféricas em uma região ao longo de um período prolongado, geralmente de 30 anos ou mais.
O Professor. Me. José Alves Costa enfatiza que é comum as pessoas confundirem tempo e clima, especialmente aquelas sem formação na área.
“As pessoas, de um modo geral, fazem uma confusão danada entre o que é tempo e o que é clima. Uma das nossas missões é desmistificar isso. Quando falamos de tempo, referimo-nos tanto às combinações atmosféricas quanto ao espaço temporal.”, explica o professor.
EVENTOS CLIMÁTICOS EXTREMOS E MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Nos últimos anos, a frequência e a intensidade dos eventos climáticos extremos têm aumentado significativamente em todo o mundo. Inundações devastadoras, secas prolongadas, ondas de calor intensas e tempestades violentas são exemplos desses eventos que têm causado enormes impactos sociais, econômicos e ambientais.
A partir disso, a confusão entre eventos climáticos extremos e mudanças climáticas vem se tornando cada vez mais comum, porém é crucial entender a diferença entre esses dois conceitos.
O Professor Me. José
prefere discutir mudanças nos comportamentos extremos do tempo em vez de mudanças climáticas.
“No mundo todo, ultimamente, temos tido comportamentos do tempo atmosférico de maneira severa, atingindo extremos – secas, inundações extremas, diminuições ou aumentos de temperatura no sentido extremo. Isso, segundo ambientalistas, é atribuído à ação humana.”
Entretanto, ele ressalta que para ser considerada uma mudança climática, esses padrões extremos precisam se manter ao longo de décadas.
“O clima é uma combinação da atmosfera que é permanente. Para falar de mudança climática, essa mudança precisa permanecer por pelo menos 10, 20 ou 30 anos.”, enfatiza o climatologista.
Quando a conversa é voltada para discutir a situação da América do Sul, o professor destaca a interconexão das dinâmicas atmosféricas no hemisfério sul. Ele cita o exemplo recente de enchentes no Rio Grande do Sul, atribuídas ao efeito do El Niño, que causou secas extremas na Amazônia no ano passado.
O professor destaca que a
dinâmica das massas de ar, quentes e frias, secas e úmidas, é fundamental para entender os padrões
climáticos e
meteorológicos. No
Rio Grande do Sul, por exemplo, enchentes recentes não são fenômenos novos, mas a frequência e a severidade desses eventos podem estar ligadas ao
El Niño e
outros fenômenos atmosféricos. Estes eventos extremos, que incluem secas severas e enchentes, são indicativos de uma
mudança climática
se eles persistirem por
décadas.
A CONTROVÉRSIA SOBRE O INVERNO AMAZÔNICO
A expressão Inverno Amazônico é frequentemente utilizada para descrever um período específico de chuvas intensas na região amazônica, especialmente no Acre e na Amazônia Ocidental.
Segundo o Professor Me. José Alves Costa, a expressão é um equívoco. Ele explica que, cientificamente, o inverno é caracterizado por temperaturas mais baixas e, frequentemente, por menor precipitação. Na Amazônia, o aumento das chuvas durante o período chamado de Inverno Amazônico não se alinha com essa definição tradicional de inverno.
Além disso, a Amazônia ocupa áreas nos dois hemisférios, norte e sul, o que implica em diferentes padrões sazonais. A parte ao norte do equador tem suas estações invertidas em relação à parte ao sul. Portanto, a simplificação das estações do ano na Amazônia através de termos como Inverno Amazônico não captura a complexidade climática da região.
“A Amazônia está nos hemisférios norte e sul, mas as duas partes estão muito próximas do equador. Assim, não temos as mesmas estações do ano nos dois hemisférios.”, detalha José.
Segundo o professor, a expressão surgiu de uma interpretação errônea trazida pelos colonizadores portugueses.
“Os portugueses trouxeram a ideia de que o inverno era estação chuvosa e o verão era estação seca. No Nordeste do Brasil, isso faz sentido, mas na Amazônia Ocidental não. Aqui, o período de escassez de chuva ocorre durante o inverno.”, conclui.
ENCHENTES E SECAS: DOIS LADOS DA MESMA MOEDA
Para José, falar de enchentes e secas é falar de eventos extremos que ilustram a dinâmica climática da região. Ele relembra a severa seca de 2005 no Acre, que devastou o estado com incêndios florestais.
Nos últimos anos, tem havido uma tendência de
períodos secos
mais prolongados e
chuvas concentradas em intervalos mais
curtos, resultando em inundações mais
frequentes. Essa mudança no regime das precipitações é um indicativo de
alteração climática, que, embora a quantidade total de chuva possa permanecer a mesma, a distribuição ao longo do ano está se desequilibrando.
“Os períodos secos, que antes duravam de 4 a 5 meses, agora estão se estendendo por mais de 6 meses. Ao mesmo tempo, a intensidade das precipitações durante o período de chuvas tem aumentado, levando a enchentes.”, destaca o climatologista.
José também explica que essas mudanças são conhecidas na climatologia como alterações no regime climático.
“O regime das precipitações está relacionado à distribuição das chuvas ao longo do ano. Muitas vezes, a quantidade de chuva em milímetros é a mesma, mas há um desequilíbrio na distribuição dessas precipitações ao longo das estações.”, acrescenta.
A IMPORTÂNCIA DA CLIMATOLOGIA E DO PROJETO HORIZON
O trabalho do Professor Me. José Alves Costa é fundamental para entender as complexidades climáticas da Amazônia. Ele destaca a importância de distinguir entre eventos extremos do tempo e mudanças climáticas permanentes, enfatizando a necessidade de monitoramento contínuo para determinar se essas variações se transformarão em mudanças climáticas a longo prazo.
Nesse contexto, iniciativas como o GeoLAB | Horizon, desenvolvido pelo Instituto GeoLAB com o apoio do CNPq Brasil, são essenciais. Essa ferramenta de alerta de risco climático visa melhorar a previsão e a resposta a eventos climáticos extremos, oferecendo dados precisos e atualizados para ajudar comunidades e autoridades a se prepararem e mitigarem os impactos dessas mudanças.
Para mais informações sobre o Projeto Horizon, apoiado pelo CNPq Brasil, visite www.geoeconomico.org/horizon
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Agradecemos imensamente ao Professor. Me. José Alves Costa pelo tempo concedido para esta enriquecedora entrevista.
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